Hoje falarei um pouco sobre a Síndrome de
Tourette, que é uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por
tiques, espasmos ou vocalização que ocorre repentinamente da mesma maneira com
considerável frequência. Os tiques motores e vocais mudam constantemente de
intensidade. A maioria das pessoas afetadas é do sexo masculino.
O início da síndrome geralmente se manifesta na infância ou juventude
do indivíduo, eventualmente atingindo estágios classificados como crônicos.
Porém, no decorrer da vida adulta, frequentemente, os sintomas vão aos poucos
se amenizando e diminuindo. Mesmo assim, até hoje ainda não foi encontrada uma
cura para a Tourette. Tratamentos médicos existem para amenizar os sintomas,
porém, o consenso entre os profissionais da área é de que os tratamentos
precisam ser individualizados por causa das sempre presentes reações adversas aos
medicamentos.
Os tiques podem se manifestar em qualquer parte ou conjunto de partes do
corpo (barriga, nádegas, pernas, braços etc.), mas tipicamente eles ocorrem no
rosto e na cabeça - no rosto, como caretas repetidas, e na cabeça como um todo,
como movimentos bruscos, repetidos, de lado a lado etc. A principal comorbidade é
o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC),
prevalente em aproximados 50% dos portadores. Os comportamentos
obsessivo-compulsivos estão intimamente ligados, tanto do ponto de vista
genético quanto do ponto de vista fenomenológico (Robertson & Yakely,
2002). Outros sofrimentos psíquicos que se têm mostrado abundantes são os
distúrbios do sono,
a ansiedade e
a depressão. Pesquisas têm levantado a
possibilidade de que essas alterações possam fazer parte dos próprios subtipos
da ST (Robertson & Yakely, 2002). Bastos e Vaz apresentam outras
características psicológicas verificadas:
"Outros aspectos psicodinâmicos e comportamentais relativamente
comuns na ST, como os comportamentos opositivos, agressivos, regressivos, a
forma como está se dando a liberação dos impulsos, a capacidade de
autorregulação e autocrítica, a capacidade e estado de adaptação, a capacidade
de tolerância à tensão e ansiedade, a capacidade de concentração no que se está
fazendo, a liberação dos impulsos e instintos mais primitivos, a liberação das
reações emocionais compatíveis com explosividade, os indicadores de falta de
integração e organização, a labilidade do controle emocional e
impulsividade, os indicadores de carência afetiva, a necessidade de contato
humano e de ausência de repressão, podem ser constatados nos protocolos da técnica de Rorschach, e isto aparece de forma
abundante na literatura sobre este teste" (Bastos & Vaz, 2009).
Um aspecto que merece ênfase ao se tentar explicar ou compreender essa
síndrome é que os sintomas ocorrem involuntariamente. Raramente uma pessoa que
sofre da síndrome consegue controlar um mínimo de seus tiques e jamais por
prolongados períodos de tempo. Assim como o ser humano não consegue viver por
muito tempo com os olhos abertos, pois seu corpo reage de forma natural,
inconsciente, para que seus olhos pisquem, dessa mesma forma se manifestam os
sintomas da síndrome de Tourette no indivíduo por ela afetado.4
Infelizmente a reação de muitas pessoas desinformadas perante
manifestações da síndrome de Tourette é aquela de fobia ao diferente.
Ainda mais: às vezes, a reação é de reprovação. Isso ocorre especialmente
quando a pessoa afetada pela síndrome de Tourette manifesta sintomas de coprolalia.
A coprolalia enquadra aqueles indivíduos que, além de outros sintomas de
Tourette, veem-se obrigados a repetir palavras obscenas e/ou insultos.
Obviamente as consequências desse tipo de comportamento geralmente se traduzem
em diferentes graus de desvantagens no âmbito social.
Os critérios diagnósticos oferecidos pelo DSM-IV-TR são:
·
Múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais
em algum momento durante a doença, embora não necessariamente ao mesmo tempo
(um tique é um movimento ou vocalização súbita, rápida, recorrente, não rítmica
e estereotipada).
·
Os tiques ocorrem muitas vezes ao dia (geralmente
em ataques) quase todos os dias ou intermitentemente durante um período de mais
de um ano, sendo que durante esse período jamais existe uma fase livre de
tiques superior a 3 meses consecutivos.
·
A perturbação causa acentuado sofrimento ou
prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo.
·
O início dá-se antes dos 18 anos de idade.
·
A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos
de uma substância (por exemplo, estimulantes)
ou a uma condição médica geral (por exemplo, doença de Huntingtonou encefalite pós-viral)
(DSM-IV-TR, 2002, p.101).
BASTOS, A. G. e VAZ, C. E.. Estudo
correlacional entre neuroimagem e a técnica de Rorschach em crianças com
síndrome de Tourette. Agosto de 2009, vol.8, n°.2, p.229-244. ISSN
1677-0471.
Nenhum comentário:
Postar um comentário